segunda-feira, 23 de julho de 2018

Prefeito e vereadores presos venderam até uma rua


Cidade portuária e turística, terceira maior arrecadação de Paraíba, marco zero da BR-230 e com um histórico de corrupção e desvio de dinheiro sem precedentes no Estado. Assim é o município de Cabedelo, na região metropolitana de João Pessoa, alvo da operação Xeque-Mate, realizada no início de abril deste ano, que prendeu o prefeito, cinco vereadores e mais cinco servidores.
Mesmo preso, o grupo custava aos cofres públicos R$ 103 mil por mês em salários. Provocada pela população, a Câmara de Cabedelo consultou o TCE-PB (Tribunal de Contas do Estado da Paraíba), que determinou a suspensão dos vencimentos.
Uma decisão liminar publicada no último dia 27 autorizou o pagamento a três vereadores afastados. Até o momento, 26 pessoas foram denunciadas pelo MP (Ministério Público) da Paraíba por formar uma organização criminosa que teria causado prejuízo de R$ 20 milhões aos cofres públicos. Essa estimativa inclui desvios por meio de servidores fantasmas, desvalorização de obras e venda de licitações.
Na última quinta-feira, a Polícia Federal realizou a segunda fase da operação e cumpriu mandados de busca e apreensão em escritórios de pessoas que são suspeitas de envolvimento no esquema.
O clima é de revolta entre os moradores de Cabedelo – mas, a julgar pelos relatos ouvidos pela reportagem do portal UOL, não de surpresa. “Não é de hoje que o município de Cabedelo está no abandono. Dinheiro, a gente sabe que tem, porque a arrecadação é alta, mas a polícia mostrou que o destino era o bolso dos nossos representantes. Eu me sinto envergonhado de tudo isso, mas não fiquei surpreso. Uma hora a bomba ia estourar, graças a Deus que estourou”, disse o vendedor José Bandeira.
Em Cabedelo, segundo a denúncia do Ministério Público, foram constatadas doações fraudulentas de imóveis do patrimônio público da cidade, todos muito bem localizados e de valor alto, para empresários locais. As doações, segundo o MP, aconteceram sem nenhuma transparência e critério. Até uma rua do município teria sido comprada por um empresário, o que deixava ampliar seu estabelecimento na cidade.
Na badalada praia de Camboinha, local de veraneio dos mais ricos, as ruas sempre foram um problema a ser vencido. Uma das principais, a Max Zagel, por exemplo, continua até hoje sem calçamento em praticamente toda a sua extensão. Cenário que destoa das grandes casas existentes no local.
No início de junho, o atual prefeito de Cabedelo, Vítor Hugo (PRB), anunciou um projeto de calçamento, chamado “Pavimenta Cabedelo”. Segundo a prefeitura, serão investidos mais de R$ 4,5 milhões.
Vítor Hugo foi um dos cinco vereadores (de um total de 15) que não foram presos ou afastados na operação Xeque-Mate. Ao convocarem os dez suplentes, a Câmara da cidade o elegeu presidente. Com isso, seguindo a linha sucessória, ele passou a ocupar o cargo de prefeito interino.
Quase três meses depois das prisões, Cabedelo tenta se reerguer. Na Câmara Municipal, os vereadores realizam sessões às terças e quintas-feiras. Dez vereadores suplentes assumiram as cadeiras no legislativo municipal após as prisões ou afastamentos dos titulares. Se o clima nas ruas é de revolta, dentro da Câmara alguns vereadores ainda estão se acostumando com as novas funções.
“Imaginem só, eu estava limpando um jardim e de repente sou informado que me tornaria vereador. Foi uma surpresa. Ainda tenho muita coisa a aprender aqui, como o regimento, por exemplo, mas eu vou honrar os votos que recebi”, afirmou o vereador.
Quem assumiu a presidência da Câmara foi Geusa Ribeiro (PRP), vereadora eleita com 587 votos (1,68%). “Muitas pessoas falavam que iríamos fazer o mesmo dos nossos antecessores, que seríamos conduzidos pelo prefeito preso”, afirma.
A prefeitura de Cabedelo, por meio da assessoria de imprensa, informou que também seguiu a recomendação do TCE-PB e cancelou o pagamento do mês de junho referente aos salários do prefeito preso Leto Viana e do vice afastado Flávio de Oliveira (PRP), que no dia 15, morreu vítima de insuficiência cardiorrespiratória. Além disso, a prefeitura afirmou que está trabalhando para extinguir “super salários”, pagar servidores dentro do mês de trabalho e férias atrasadas.

osul

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