terça-feira, 30 de agosto de 2016

Maioria dos candidatos em SC é homem, branco, de meia idade e com ensino médio completo

A análise de dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostra que houve pouquíssima mudança no perfil dos candidatos em Santa Catarina nesta eleição na comparação com a disputa de 2012. A maioria dos políticos que estarão nas urnas do Estado em 2 de outubro continua sendo formada por homens brancos, de meia idade e com pelo menos o ensino médio completo – a variação de quatro anos pra cá não chegou a 3% em nenhum desses itens. As razões passam por três fatores: o sistema político defasado, a estrutura partidária e eleitoral engessada e o conservadorismo histórico das oligarquias de SC.
O conceito de "partidos de quadro" tem papel central nesse cenário. Nessa definição entram siglas criadas a partir de oligarquias e que têm uma forte influência de alguns poucos líderes – passando por eles praticamente todas as decisões acerca de candidaturas. Na avaliação do doutor em sociologia política e professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Itamar Aguiar, isso é um dos principais obstáculos à renovação.
– Tirando partidos que historicamente são de massa, de base social, como o PT, os demais seguem mais ou menos uma única estrutura partidária concentrada. Há uma elite política conservadora que impede a renovação e isso é muito claro no Estado – pondera.
Mudanças na legislação dificultam caras novas
A própria minirreforma eleitoral dificulta o surgimento de caras novas nas disputas. A oferta de candidatos jovens até costuma ser uma estratégia das siglas para apresentarem-se como forças renovadoras, mas diante de uma campanha com poucos recursos e menos tempo de duração, a opção foi pela segurança.
Embora exista a aspiração de que os representantes eleitos sejam o exato espelho da sociedade (ou seja, que eles reflitam as mesmas condições sociais dos eleitores), o doutor em sociologia política e professor da UFSC Carlos Sell diz que isso é uma ilusão sociológica:
– A política é uma atividade profissionalizada e elitizada que exige recursos e experiência. Não há espaço para arriscar. Nesse caso a culpa não pode ser creditada aos partidos, mas às regras do jogo, que os forçam a atuar dessa forma para serem bem-sucedidos. Essa não deverá ser uma eleição da mudança, mas da continuidade.
O sistema político ultrapassado, com escolha dos candidatos dentro dos partidos, em prévias fechadas, e o distanciamento entre eleitos e eleitores também influenciam.
– Hoje já se trabalha com a ideia de democracia participativa deliberativa, mas aqui não conseguimos implantar esse regime. No máximo há audiências públicas e participações na saúde e educação por meio dos conselhos, mas nossa forma de fazer política ainda é muito representativa – diz Itamar Aguiar.
Renovação de representantes políticos ocorre gradualmente
Se os partidos tivessem levado em conta a pesquisa inédita do Instituto Mapa, contratada pelo Grupo RBS/SC em junho, chegariam à conclusão que poucos  desejos dos eleitores foram atendidos na escolha dos candidatos. Mais da metade dos pesquisados no levantamento achava imprescindível ou desejável que o político que fosse concorrer em outubro tivesse cursado ensino superior, mas a maioria tem ensino médio completo ou está cursando agora o superior. No item experiência, a sintonia foi um pouco melhor. Quase 45% dos entrevistados preferiam candidatos de meia-idade ou mais velhos – e estas faixas etárias realmente são as que mais aparecem entre os escolhidos pelas siglas partidárias. Da mesma forma, 62% queriam pessoas que tivessem trabalhado também em empresas, fora da política – empresário é a segunda ocupação mais comum entre os candidatos, com 16,7%.
Na renovação, o cenário foi dividido e só o resultado das urnas dirá se a aposta em candidatos experientes deu certo. Isso porque a pesquisa revelou que mais da metade dos eleitores catarinenses só vota em políticos que conhece ou de quem já ouviu falar, mas que um nome novo no cenário político eleitoral pode ganhar o seu voto de confiança nas urnas.
– A mudança no perfil acontece muito vagarosamente e é percebida depois de muitos anos. Apesar de termos problemas estruturais, acredito que há mudanças de qualidade. Sobretudo por conta da variável importante que é a intervenção da Justiça no processo eleitoral, de gestão das Câmaras e do Executivo. Isso gera mudança de comportamento e por isso ainda que o perfil seja o mesmo, as pessoas estão tendo mais cuidado com valores políticos e o passado dos candidatos – diz o mestre em sociologia política e professor da Univali Sérgio Saturnino Januário.
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