Estudo realizado pela Camex indica que, caso a tarifa americana de 25% sobre o aço entre em vigor, o Brasil pode perder cerca de US$ 1,3 bilhão em exportações por ano.
No ano passado, o país exportou US$ 2,6 bilhões em aço para os EUA, que é o principal mercado para o Brasil, absorvendo um terço das vendas. Segundo estimativa da Camex, haveria impacto sobre 52% a 53% das exportações siderúrgicas para os Estados Unidos.
Canadá e México, concorrentes do Brasil, estarão isentos da tarifa, pelo menos enquanto se renegocia o Nafta. A Coreia do Sul, outro grande concorrente, pode acabar excluída, por conta da parceria com os EUA nas negociações pelo desarmamento da Coreia do Norte e da renegociação do acordo comercial que o país mantém com os americanos.
Com isso, o Brasil estaria em ampla desvantagem diante de seus principais concorrentes.
Mas, na visão de autoridades e especialistas que acompanham a negociação, há bastante espaço de manobra para o Brasil conseguir reduzir o impacto das barreiras.
A percepção é de que a medida é característica do governo Trump. “É a tática do bate e assopra, anuncia medida dura, aí cria espaço para negociação”, diz Diego Bonomo, gerente executivo de assuntos internacionais da CNI.
Espera-se que o governo americano demande do Brasil apoio no endurecimento contra a China, em relação ao excesso de capacidade de produção de aço. O Brasil não teria problemas em relação a essa exigência.
Outra demanda que se espera da Casa Branca é a chamada “restrição voluntária de exportação”, pela qual o Brasil se comprometeria a limitar suas vendas para o país ao volume exportado em um determinado ano.
Na visão de um especialista, se o Brasil conseguir que a restrição atinja apenas os produtos siderúrgicos, a minoria da exportação brasileira, e poupe os semi-acabados, já será uma vitória.
O país também podem barganhar com concessões em produtos de interesse dos EUA – maior abertura para importação de trigo de fora do Mercosul e remoção da tarifa sobre etanol importado.
O setor privado continua fazendo gestões junto às indústrias americanas que importam aço brasileiro, como as de eletrodomésticos e automóveis. Elas devem entrar com pedidos no Departamento de Comércio argumentando que as tarifas podem encarecer o produto final e que não há substitutos nacionais em quantidade ou qualidade suficientes.
Mas esse processo será burocrático e moroso, pode levar até 90 dias.
A declaração do representante de comércio, Robert Lighthizer, em audiência no Congresso, foi recebida com otimismo. Os países terão até dia 30 de abril para “apresentar seus casos” para o governo americano e tentar ser excluídos, em parte ou totalmente, das barreiras. Alguns países, possivelmente o Brasil, podem ter as tarifas suspensas enquanto negociam.
Mas observadores criticam a demora do presidente Temer para telefonar para o presidente Donald Trump. Vários outros líderes já ligaram para o americano, cientes de que Trump é bastante suscetível à diplomacia presidencial e que critérios técnicos podem importar menos. Já existem “talking points” para Temer, discutidos com a indústria em encontro com o presidente: impacto sobre as importações brasileiras de carvão americano, de US$ 1 bi, o Brasil ser um dos principais investidores nos EUA, inclusive no setor siderúrgico, e o País acumular déficits com os americanos.
É preciso acelerar a negociação, dizem especialistas. “A Austrália, União Europeia e Argentina estão em estágio avançado de negociações para exclusão das tarifas, o Brasil teve ao menos o reconhecimento de que começou a negociar”, diz Pablo Bentes, diretor-executivo do escritório de advocacia Steptoe & Johnson, em Washington.
osul
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