sexta-feira, 23 de março de 2018

O batalhão da Polícia Militar denunciado pela vereadora assassinada no Rio de Janeiro é alvo de mais de 200 inquéritos


Alvo de denúncia da vereadora Marielle Franco (PSOL) quatro dias antes de ser morta a tiros, o 41º Batalhão de Polícia Militar do Rio de Janeiro é investigado em 212 inquéritos do MPE (Ministério Público Estadual). Com base nesse trabalho, o Gaesp (Grupo de Atuação Especializada) em Segurança Pública do órgão já denunciou ao menos 23 integrantes da unidade, localizada no bairro do Irajá.
As denúncias sobre supostos abusos cometidos por PMs do batalhão são acompanhadas pelo Gaesp desde abril de 2016. Em sua maioria, tratam-se de crimes de os homicídios decorrentes de intervenção policial e “autos de resistência”. Muitos dos incidentes são de difícil elucidação, porque já aconteceram há muito tempo.
O MPE informou que foi instaurado um procedimento preparatório para identificar “eventuais falhas ou excessos” e buscar alternativas que diminuam os riscos à população e aos próprios PMs. Em alguns casos, peritos responsáveis pelos primeiros exames já deixaram o cargo, o que também complica a busca por informações complementares. Também há dificuldades para encontrar a família das vítimas.
Conforme o Instituto de Segurança Pública do Rio, desde 2013 o 41º Batalhão é recordista em homicídios cometidos pela polícia no Estado, entre todos os batalhões. Nos últimos dez anos, a média anual na área dos bairros atendidos pela unidade, na Zona Norte da cidade, foi de 57 mortes. E de 2008 ao ano passado, o pico foi em 2016, quando começou o trabalho do Gaesp. Foram 92 homicídios, quase o dobro dos 48 verificados no ano anterior. Em 2017, foram 69 registros. O Gaesp tem feito palestras para os PMs, em uma tentativa de reduzir o grau de letalidade nas ações.
Denúncia
Quatro dias antes de ser morta a tiros, no centro do Rio, Marielle publicou nas redes sociais uma denúncia sobre os homicídios de duas pessoas, atribuídos a PMs do batalhão, no dia 5 deste mês. Uma semana antes do assassinato, a imprensa pediu uma posicionamento da PM sobre essa acusação dos moradores, e a corporação respondeu, por meio de nota, que realizou operação na comunidade no dia. Disse também que os PMs foram recebidos a tiros, mas não informou se a ação resultou em dois mortos.
Segundo a corporação, o 41º foi acionado pelo Hospital do Acari, onde uma pessoa morreu após ser ferida por arma de fogo. E disse ter sido chamada para outra ocorrência, de encontro de cadáver na Pavuna, ao lado de Acari. Mas não confirmou a autoria das mortes.
Moradores contaram que as vítimas não tinham envolvimento com bandidos e que seus corpos foram jogados numa vala. Disseram também que eles próprios tiveram de resgatar os cadáveres. Denunciaram ainda que, por causa da intervenção na segurança, policiais do 41.º BPM têm se sentido “livres” para cometer excessos.
PMs desse batalhão são acusados ainda de participar da chacina de Costa Barros, há dois anos. Na ocasião, cinco jovens foram mortos em um carro, que foi atingido 111 vezes. Outro episódio violento foi a morte de Maria Eduarda Alves, de 13 anos, alvejada no pátio da escola enquanto PMs do 41.º faziam operação no local, em 2017.
Na última quarta-feira, o MPE reforçou com cinco promotores a equipe que apura o caso Marielle, e a Polícia Civil voltou ao local do crime para esclarecer dúvidas.
osul

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