segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

Delações da Odebrecht vão provocar efeito dominó nos estados


As delações premiadas dos 77 diretores e ex-executivos da empreiteira Odebrecht prometem abalar não apenas Brasília quando forem reveladas. Os depoimentos à Lava Jato também produzirão um efeito dominó nos estados. E ameaçam virar a opinião pública contra os governadores envolvidos e, assim, dificultar a governabilidade num momento delicado em que os estados discutem a adoção de medidas para aliviar as contas estaduais.

A expectativa é de que o conteúdo das delações da Odebrecht se tornem públicas em breve. Na única colaboração premiada cuja íntegra já se tornou pública até agora, do ex-diretor da empreiteira Cláudio Melo Filho, são citados dois governadores: Renan Calheiros Filho (Alagoas) e Rui Costa (Bahia), além do vice-governador do Rio de Janeiro, Francisco Dornelles.

O número de envolvidos, porém, deve se tornar bem maior. O chamado listão da Odebrecht contém o nome de outros oito governadores, além de 12 ex-governadores. O listão é uma relação de cerca de 200 políticos que teriam recebido pagamentos (não necessariamente ilegais) da Odebrecht. A lista foi apreendida em fevereiro do ano passado, durante a 23.ª fase da Lava Jato, na sede da construtora.
Momento delicado
O terremoto político que ameaça chegar aos estados chegaria num momento delicado para os governadores. Todos os estados enfrentam problemas de orçamento. E muitos estão buscando adotar medidas duras de ajuste fiscal que precisam ser aprovadas pelas Assembleias Legislativas.

Além disso, o governo federal estuda exigir dos governadores, em troca de socorro financeiro, que privatizem as estatais de água e energia dos estados – outro tipo de decisão que normalmente precisa ser referendada pelos deputados estaduais e que costuma enfrentar forte resistência popular.

Baixa legitimidade
“A dificuldade para o governador [que for citado nas delações] é que ele se torna um interlocutor com baixa legitimidade; o custo de negociação [das medidas de ajuste fiscal] fica maior”, diz o cientista político Marco Antonio Carvalho Teixeira, da Fundação Getulio Vargas (FGV).

Teixeira cita o caso do Rio, um dos estados com a pior situação das contas públicas. O atual governador, Luiz Fernando Pezão (PMDB), era vice de Sérgio Cabral – preso pela Lava Jato. E seu vice, Francisco Dornelles, também é citado nas delações. Pezão vem enfrentando protestos populares e dificuldades para aprovar seu pacote de ajuste fiscal. “Ainda assim, a Assembleia do Rio ainda dá apoio ao Pezão”, lembra o cientista político.

Segundo Teixeira, isso tende a se repetir nos estados em que os governadores aparecerem nas delações. Eles terão problemas, mas manterão a governabilidade – do mesmo modo que o presidente Michel Temer, também citado nas investigações, consegue manter apoio no Congresso.

No entanto, o cientista político avalia que a situação piora para os governadores se a crise política produzida pelas delações também chegar às Assembleias Legislativas e afetar os interlocutores dos governos. No listão da Odebrecht, por exemplo, constam os nomes de 23 deputados estaduais.

6 prefeitos de capitais
Seis prefeitos das 26 capitais dos estados também aparecem no chamado listão da Odebrecht como supostos beneficiários de pagamentos feitos pela empreiteira. A relação de nomes, porém, não indica o que teria sido financiamento legal de campanha e o que teria sido pagamento de propina ou caixa 2 eleitoral.

auonline

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