sexta-feira, 30 de junho de 2017

Citado em delações, jornalista ligado à Força Sindical deixa o cargo de presidente do Fundo de Investimento do FGTS


O jornalista Luiz Fernando Emediato renunciou ontem ao cargo de presidente do comitê de investimento do FIFGTS, fundo que usa parte dos recursos do FGTS dos trabalhadores para aplicar em projetos de infraestrutura. Ligado à Força Sindical, Emediato havia sido eleito para o posto no fim de maio, mesmo depois de ter sido citado em delações de executivos da Odebrecht e da JBS, como revelou o jornal Estado de S. Paulo.
Os delatores acusaram Emediato de ter recebido propina para liberar recursos do FI-FGTS para a Odebrecht Transport (braço de transportes do grupo) e para beneficiar a J&F, controladora da JBS, no período em que trabalhou no Ministério do Trabalho. Emediato nega as acusações.
À época da eleição, a bancada governista tentou dissuadi-lo de assumir o posto no órgão responsável por decidir sobre os aportes do fundo, e dois dos cinco representantes presentes à reunião chegaram a se abster de votar por constrangimento.
O comitê de investimento do FI-FGTS tem representantes do governo, dos trabalhadores e dos empregadores. Por rodízio, a presidência – com mandato de um ano – teria de ficar, desta vez, com um representante dos trabalhadores. Com a renúncia de Emediato, foi eleita Suzana Ferreira Leite, ligada à UGT (União Geral dos Trabalhadores).
Com assento
Apesar da renúncia à presidência do comitê de investimentos, o jornalista não abdicou de seu assento no colegiado e continua atuando como representante dos trabalhadores nas decisões sobre as aplicações do fundo.
Após registrar prejuízo histórico em 2015, o FI-FGTS está passando por uma reformulação para melhorar os processos de escolha dos projetos que recebem dinheiro do fundo. O balanço de 2016 ainda não foi publicado, mas deve ficar no azul. No ano anterior, fechou com a menor rentabilidade da história, negativa de 3%, com perda de patrimônio de R$ 900 milhões.
O ex-presidente da Odebrecht Infraestrutura Benedicto Junior, e o ex-presidente da Odebrecht Transport, Paulo Cesena, disseram, em delações premiadas da Operação Lava Jato, que houve pagamento de propina para que o braço de transportes do grupo fosse capitalizado pelo fundo.
O intermediário para a liberação dos recursos foi o ex-deputado federal Eduardo Cunha, que teria cobrado propina de 1% do valor da operação, segundo os delatores. O ex-deputado justificou o valor do suborno de R$ 4 milhões dizendo que teria de repassar dinheiro a Fábio Cleto, na ocasião vice-presidente de Loterias da Caixa, e para três conselheiros do FI-FGTS, entre eles o jornalista Emediato, dono da editora Geração Editorial.
Após o pagamento do suborno, o aporte de R$ 429 milhões foi liberado. Procurado, Emediato disse que nunca votou a favor ou contra qualquer projeto da Odebrecht. “Logo, não tenho nada a ver com isso.”
Além da Odebrecht, o FIFGTS também foi alvo de denúncias do empresário Joesley
Batista, dono da JBS. Em sua delação, ele disse que pagou R$ 90 milhões a Cunha para liberar recursos do fundo. O ex-diretor de Relações Institucionais do grupo J&F, Ricardo Saud, disse, na delação, que Emediato recebeu R$ 2,8 milhões como forma de influenciar favoravelmente a empresa enquanto membro do conselho deliberativo do FAT.
Emediato confirmou que Saud o procurou nos dez meses em que trabalhou no Ministério do Trabalho. “Incomodado com a fiscalização dos frigoríficos da JBS, ele realmente pediu ao MTE uma fiscalização “rigorosa” dos demais frigoríficos e em seus delírios propôs ‘pagar’ aos fiscais por isso. Ninguém o levou a sério”, afirmou. (AE)
osul

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