O relatório final enviado pela PF (Polícia Federal) ao STF (Supremo Tribunal Federal) sobre o chamado “inquérito dos portos” aponta “indícios concretos” de que dinheiro de propina da empresa JBS/Friboi para Michel Temer pagou a reforma da casa de uma de suas filhas, a psicóloga Maristela Temer. Conforme o delegado Cleyber Malta Lopes, o emedebista acompanhou detalhes – inclusive financeiros – da obra, contradizendo depoimentos da família.
A reforma foi realizada entre 2013 e 2015 (quanto Temer ainda era o vice da então presidenta Dilma Rousseff) e, segundo a investigação, pode ter custado até R$ 2 milhões. Grande parte foi paga com dinheiro-vivo. O imóvel está localizado no bairro Alto de Pinheiros, região nobre de São Paulo.
Quem comandou os trabalhos foi João Baptista Lima Filho (o “Coronel Lima”, amigo e braço-direito de Temer) e sua esposa, Maria Rita Fratezi, que é arquiteta. Ela teria ido pessoalmente até um dos fornecedores para fazer pagamentos em dinheiro-vivo.
Em delação premiada, executivos da JBS/Friboi disseram ao Ministério Público que repassaram como propina R$ 1 milhão ao Coronel Lima, a pedido de Temer. Os recursos seriam parte de um total de R$ 15 milhões em doações de campanha, supostamente acertados com o político. A data de entrega do valor coincide com o período das obras, o que chamou a atenção da polícia.
Florisvaldo Oliveira, ex-funcionário da JBS/Friboi (dos empresários Joesley e Wesley Batista), disse que levou R$ 1 milhão ao coronel, na sede de uma de suas empresas, a Argeplan, em 2 de setembro de 2014. “R$ 1 milhão repassado para Lima, sob o qual recai indícios concretos de utilização direta em reforma de imóvel de Maristela, configurado também o crime de lavagem de dinheiro”, detalhou o delegado.
Para a PF, o diálogo “não deixa dúvidas de que Temer de fato estava acompanhando as obras do imóvel de Maristela, inclusive os custos”. O delegado anexou uma troca de mensagens no relatório entre a mulher de Lima e a filha do presidente, como prova de que Temer sabia detalhes da obra.
“Olá Maristela te enviei por mail, os descontos da Indusparquet. Bj. Rita”, escreveu Maria Rita. “Ok. Passo para o papai?”, perguntou Maristela. “Passei os preços para João [Baptista], que disse que vai aprovar com ele”, respondeu a arquiteta.
Segundo o delegado Cleyber Malta Lopes, as mensagens expõem uma contradição do depoimento da filha do emedebista, que disse que seu pai “não auxiliou com nenhuma parte dos recursos que a depoente utilizou”.
A polícia também acha que há contradição nas respostas dadas por Temer no inquérito. Ele disse que “nunca” realizou “negócios comerciais ou de qualquer outra natureza que envolvesse a transferência de recursos financeiros para o sr. João Baptista Lima Filho”.
Discrepância
Outro ponto apontado pela PF é que Maristela Temer disse em depoimento que gastou cerca de R$ 700 mil com a obra, mas a investigação conseguiu juntar provas que mostram que o valor é superior, podendo chegar a R$ 2 milhões.
A declaração da filha do presidente fez a “situação se agravar”, segundo a Polícia Federal. “Maristela não apresentou qualquer recibo que comprovasse em definitivo que os gastos foram suportados de fato por ela”, diz o relatório.
Os crimes apontados são: corrupção passiva, ativa, lavagem de dinheiro e organização criminosa. A PF pediu a prisão de Lima e outros quatro investigados. O Ministério Público ainda terá de se manifestar e o ministro Luís Roberto Barroso é quem vai decidir. Os indiciados são:
Michel Temer, sua filha, Maristela Temer, Rodrigo Rocha Loures, seu ex-assessor, Antonio Greco, ex-diretor da Rodrimar, Ricardo Mesquista, também da Rodrimar, Gonçalo Torrealba, diretor do grupo Libra, o coronel João Baptista Lima Filho e sua mulher, Maria Rita Fratezi, amigos de Temer, Carlos Alberto Costa e seu filho, diretor da Argeplan, e Almir Ferreira, contador da Argeplan.
Outras obras
A PF afirma no relatório que o coronel Lima já tinha um histórico de realização de obras para o presidente Temer. Além da residência de Maristela, a polícia aponta três outros serviços prestados, em 1988, 1993 e 1999. As reformas foram feitas, segundo o delegado, em residências do emedebista e em seu comitê eleitoral.
OSUL
Nenhum comentário:
Postar um comentário