Família ficou agarrada em árvore durante enxurrada no município de Saudades (Foto: Arquivo)
Há exatamente um ano, quando avistou o helicóptero do Serviço Aeropolicial da Fronteira (Saer/Fron) que foi resgatar cinco pessoas da família Lauxen, ilhadas em cima de pés de cinamomo, no meio da água do Rio Saudades, Oeste de SC, o menino Bruno Lauxen falou para o pai, Clairton: “Pai, eu ainda vou jogar bola contigo naquele campo”.
O menino realizou o sonho. O campo está recuperado, a sede do camping da família foi reconstruída com um empréstimo a juro zero de uma cooperativa de crédito, a família recebeu uma casa da Defesa Civil do Estado e a mudança para a nova moradia só não foi feita porque Clairton está construindo quartos para acomodar os filhos.
“Hoje estou mais forte”, disse Bruno, que não é uma criança de muitas palavras. Após o susto, ele ganhou duas camisas da Chapecoense e virou amigo do jogador Rafael Lima.
A casa foi construída num local mais alto que a antiga, que foi levada embora pelo rio, que transbordou. O tio Alexandre lembra que a correnteza formava ondas que pareciam o mar e o maior medo foi ser atingido por troncos e galhos.
No dia 14 de julho do ano passado, quando a água começou a subir, Clairton pediu ajuda aos irmãos Alexandre e Vanderlei e a cunhada, Janice. De repente, se viram ilhados e a salvação foram as árvores.
O bote dos bombeiros não conseguiu se aproximar para resgatá-los e, somente duas horas depois, o Saer chegou. “O esqui do helicóptero enroscou num galho. É algo que vai ficar marcado para sempre”, lembrou Clairton, que chega a se emocionar ao lembrar do episódio.
Pouco auxílio
Clairton reclamou que o auxílio governamental não foi tanto, estimando que os gastos em viagens das autoridades foi maior dos que os recursos vindos para o município. Mesmo assim, ganhou a casa da Defesa Civil e também ajuda. Os tijolos para a ampliação do imóvel, por exemplo, vieram de um empresário de Chapecó. Além disso, móveis, roupas e eletrodomésticos chegaram à família por meio de doações. Alguns pertences foram resgatados, como geladeira, freezer e roupas, que estavam a dez metros de altura, nas árvores.
O irmão, Vanderlei, e a cunhada, Janice, não gostam nem de comentar sobre o que viveram naquele dia 14 de julho. Mas Alexandre, o outro irmão de Clairton, encara a situação como uma nova oportunidade. “A gente dá valor a tudo que reconstruiu”, disse.
Prejuízos
A família Lauxen estima ter perdido cerca de R$ 700 mil com a enxurrada. Mas Alexandre lembra que isso não valeria nada se tivessem perdido a vida, agora reconstruída, segundo ele, muito mais bonita.
O temporal de julho do ano passado atingiu 28,7 mil pessoas, em 68 municípios, sendo que desses, 32 tiveram situação de emergência reconhecida e dois, Saudades e Coronel Freitas, decreto de Estado de Calamidade Pública. Em Saudades, 20 casas foram destruídas e 11 delas já entregues, entre elas a da família Lauxen.
Auxílios
A Defesa Civil do Estado informou que liberou R$ 82 mil para compra de combustível e R$ 181 mil para reconstrução de bueiros e galeria pluviais. Para Saudades, foram destinados R$ 92 mil em combustível e R$ 189 mil para recuperação de vias públicas.
O Ministério da Integração Nacional, por meio da Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil (Sedec), liberou R$ 537.284,01 para a reconstrução de pontes nos municípios de Coronel Freitas e Saudades.
A Defesa Civil informou que até maio do ano que vem serão construídos Centros Regionais de Monitoramento e o Centro Integrado de Gestão de Riscos e Desastres, em Florianópolis, permitindo uma resposta mais rápida. Até lá também deve estar concluído o radar meteorológico do Oeste e os planos de contingência dos municípios.
Fonte: DC
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