Quando a campanha de 2018 começar oficialmente, daqui a um ano, os eleitores catarinenses terão que se acostumar com algumas siglas diferentes: Podemos, Novo, Livres, Avante, Progressistas, Patriotas, MDB e talvez outras mais. Embora a maioria pareça uma completa novidade, a verdade não é bem assim. Fustigados por uma intensa crise ética e de representação, partidos - em especial alguns tradicionalíssimos, como PP e PMDB - estão atrás de uma nova fórmula para se apresentar aos eleitores. Nem que isso venha pela simples retirada do termo "partido" do nome.
Nas últimas semanas, PMDB e PP avançaram nas negociações para que não tenham mais esses nomes no próximo pleito. No caso do primeiro, será um retorno ao antigo MDB, o movimento de oposição à ditadura militar brasileira. Em relação ao segundo, a troca de nome tem a função de acabar com uma confusão com outro partido: o PT. Pelo menos é o que diz o presidente estadual da sigla, deputado federal Esperidião Amin, “há muito tempo a gente tem essa dificuldade. Esses dias dei uma entrevista para um jornalista de São Bernardo do Campo e precisei repetir o nome (do partido) três vezes. A causa principal é o esclarecimento. Vai ser uma mudança pedagogicamente útil”.
No caso do PMDB, o presidente estadual, deputado federal Mauro Mariani, diz que a discussão para a mudança de nome é antiga. Segundo ele, a decisão final será tomada durante a convenção nacional em outubro, porém a discussão já está bem encaminhada, “é uma forma de eliminar esse último resquício que a ditadura nos impôs. Claro que o partido vai buscar dar uma reoxigenada, ter uma cara mais moderna. Mas um partido com essa história não pode mudar radicalmente o nome. Tirar o P da frente não descaracteriza o que já fomos”.
Para o cientista político Valmir dos Passos, é lamentável que alguns partidos estejam se preocupando apenas a uma mudança de imagem, já que "vivemos uma grave crise ética e de representação". O professor de Ciências Sociais acrescenta ainda que, para mudar, não basta apenas uma troca de nome, mas sim uma alteração nas suas práticas políticas.
“No próximo ano, o eleitor deverá procurar novidades, alguma coisa que esteja mais afastada desse quadro desgastado atual da representação. Com isso, é normal para os partidos tentar parecer algo de novo, quando na verdade não são”, diz Passos.
Remakes e novas ideologias
Além dos grandes partidos, as alterações também têm movimentado algumas agremiações menores. É o caso do antigo PTN, que virou Podemos, mesmo nome do grupo espanhol que tem desafiado o histórico bipartidarismo do país europeu. A versão brasileira, no entanto, não se enquadra como movimento de esquerda e apresenta como presidenciável para o ano que vem o senador Alvaro Dias (ex-PSDB e ex-PV), velho conhecido do Congresso Nacional.
Quem também almeja mudar de nome é o atual PSL. O objetivo é virar o Livres, um movimento que defende o liberalismo econômico. Em Santa Catarina, a iniciativa é comandada por Alexandre Paiva, que ajudou a fundar o Movimento Brasil Livre (MBL) no Estado e organizou marchas a favor do impeachment da então presidente Dilma Rousseff.
De acordo com ele, o partido está passando por um processo de mudança ideológica e a direção nacional do PSL concordou com a desfiliação automática daqueles que não concordarem com o posicionamento.
“É um processo que teve início no começo de 2016 e ainda está ocorrendo. Em dez estados já ocorreu aquilo que chamamos de virada de chave”.
Ainda de acordo com Paiva, os líderes do movimento não trabalham com prazos no momento e sequer garantem que o nome Livres estará nas urnas no ano que vem.
“É provável que ainda estejamos como PSL. É um projeto que demanda um trabalho muito forte de construção política. O processo é lento”.
Quem muda?
Partido Progressista (PP) --> Progressistas
PMDB --> MDB
PTN --> Podemos
PEN --> Patriotas
PTdoB --> Avante
PSL --> Livres
Partidos novos (criados em 2015)
Rede Sustentabilidade
Partido Novo
Partido da Mulher Brasileira (PMB)
Partido Novo oferece proposta liberal
O Partido Novo, registrado oficialmente pelo TSE em 2015, deve estrear nas urnas em Santa Catarina no ano que vem. Segundo o presidente estadual da sigla, Eduardo Ribeiro, a principal característica que se busca é o afastamento das práticas políticas tradicionais. Como exemplos, ele cita a não utilização do fundo partidário, a proibição da reeleição para um mesmo cargo e o impedimento de dirigentes partidários de saírem candidatos.
“A ideia é não concentrar o poder em uma pessoa. A função do dirigente é fiscalizar quem possui o mandato”, diz Ribeiro.
Para o ano que vem, a ideia é que o partido esteja representado em ao menos 40 cidades catarinenses e lance candidatos a deputado federal e a senador. Talvez também concorra na eleição para governador. O processo para escolha dos candidatos é aberto. Do ponto de vista econômico, possuem uma visão parecida com a do Livres.
“Defendemos a menor intervenção do Estado na vida do indivíduo. Tratamos o indivíduo como fim de si mesmo. Acreditamos que o governo deva agir apenas em três áreas: saúde, educação e segurança”.
Rede Sustentabilidade quer ampliar participação
Também criada em 2015, a Rede Sustentabilidade é outro partido que ainda engatinha no Estado. Presidente estadual da sigla, João de Deus admite as dificuldades em achar pessoas que se adequam aos ideais do movimento, que incluem uma profunda mudança na atual forma de representação política. A procura é também por pessoas que possuam uma participação autoral, mas que ao mesmo tempo mantenham uma interlocução com movimentos organizados da sociedade civil.
“Precisamos furar esse bloqueio da representação exclusiva dos partidos políticos. A partir dessa forma, apontando mudanças na estrutura do estado, obteremos uma nova prática na relação com o meio ambiente. Um dos objetivos é fazer com que a representação política seja uma extensão das lideranças na comunidade”, diz o presidente.
Assim como o Novo, a Rede é contra a reeleição e focará no ano que vem na eleição de deputados federais, já que entende que as principais mudanças passam por Brasília. Em relação ao espectro ideológico, João de Deus diz que o partido não se enquadra em nenhum dos pontos de vista da divisão tradicional, já que apoia um modelo econômico alternativo, que não seja baseado apenas no crescimento:
“A Rede foge do padrão clássico ideológico por fazer uma contestação ao modelo de desenvolvimento. É um modelo que na nossa avaliação é insustentável. Acreditamos que pode haver desenvolvimento sem crescimento econômico. Defendemos, inclusive, que se possa reduzir o consumo para criar uma base minimamente sustentável”.
Fonte: Diário Catarinense | Foto: Reprodução/portaltivinet
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