sábado, 2 de setembro de 2017

Dono de construtora diz que desvios de dinheiro para construção de escolas bancaram a eleição do governador do Paraná, Beto Richa


O dono da construtora Valor, Eduardo Lopes de Souza, afirmou que parte dos desvios de dinheiro descobertos pela Operação Quadro Negro serviriam para bancar as campanhas do governador do Paraná, Beto Richa (PSDB). No acordo de delação firmado pelo empresário com o MPF (Ministério Público Federal), que ainda precisa ser homologada pelo STF (Supremo Tribunal Federal), Lopes é acusado de ter recebido dinheiro para construir escolas estaduais, cujas obras mal saíram do papel.
O prejuízo aos cofres públicos é estimado em R$ 20 milhões. Em nota divulgada à imprensa nessa sexta-feira, Richa negou as acusações, que classificou de “mentiras de um criminoso que busca amenizar a sua pena”. Ele argumentou, ainda, que foi a própria Secretaria Estadual da Educação que detectou disparidades em medições de algumas obras de escolas e abriu auditoria interna sobre o caso, em abril de 2015. “De imediato, o governador determinou a demissão de todos os envolvidos”, frisou um trecho do comunicado.
A fraude
Segundo as investigações, a fraude contou com a ajuda do ex-diretor da Secretaria da Educação, Maurício Fanini, que se dizia amigo pessoal do governador. A equipe chefiada por ele era responsável por produzir relatórios sobre o andamento das obras contratadas junto à Valor. Os técnicos preparavam documentos fraudados, indicando que as obras estavam em andamento avançado, quando na verdade seguiam a passos bem mais lentos.
Em um dos depoimentos da delação, Souza afirmou que Fanini mandava fazer as medições falsas porque não poderia faltar dinheiro para a campanha de Richa. Segundo o empresário, os dois esperavam levantar R$ 32 milhões para o governador, com os contratos que a
Valor fechou com o poder público.
Para ganhar as licitações, Fanini orientou Souza a elaborar propostas com descontos agressivos. Depois, os dois acertariam os valores com aditivos contratuais, subindo o valor total das obras. Em sete aditivos, a empresa recebeu cerca de R$ 6 milhões da Secretaria da Educação. Com essa tática, eles contavam que conseguiriam chegar aos R$ 32 milhões.
Souza contou aos investigadores que, entre abril e setembro de 2014, ele fazia os repasses diretamente a Fanini, na sala dele, no prédio da Superintendência de Educação. O empresário contou que entrava por uma porta lateral e Fanini dizia “banheiro”. Então, o dono da Valor ia até o vaso sanitário e pegava uma mochila, que enchia de dinheiro.
Dinheiro e vinho
Com a sequência das operações entre os dois, o volume de dinheiro começou a ficar muito alto. Conforme o relato de Souza, ele e Fanini começaram a se preocupar e pensaram em uma alternativa que consideraram mais segura. Souza conta que passou a entregar o dinheiro com caixas de vinho. Ele diz que, das 12 garrafas, tirava 10 e preenchia o espaço aberto com o dinheiro. As duas garrafas que sobravam serviam para fazer barulho, quando alguém as pegasse. Com isso, não levantariam suspeitas.
Para dar garantias ao empresário, Fanini sempre afirmava ser amigo pessoal de Beto Richa. Em novembro de 2014, o ex-diretor da Secretaria da Educação contou que viajaria com o governador. Ambos levariam as mulheres para passear no Caribe, no México, e em Miami, nos Estados Unidos. Fotos dessa viagem fazem parte de uma ação ligada às investigações da Operação Quadro Negro.
Conforme o depoimento, Fanini pediu US$ 20 mil para o empresário. Souza diz que procurou um doleiro, comprou US$ 40 mil e deu a metade para Fanini. Souza disse, ainda, que começou a pagar uma mesada de R$ 100 mil para o governador. Em janeiro de 2015, Fanini o chamou para dizer que teve uma reunião com Richa e ficou acertado que precisariam levantar a quantia.
Segundo o delator, o ex-diretor da Secretaria afirmou que o dinheiro ajudaria a financiar a campanha de 2018 Beto Richa ao Senado, do irmão dele, Pepe Richa, para deputado federal, e do filho do governador, Marcelo Richa, para deputado estadual. Souza afirma que concordou com a proposta e começou a fazer os repasses no mesmo mês da reunião. Os pagamentos seguiram, pelo menos, até junho de 2015, quando Fanini foi exonerado do cargo, pouco antes da descoberta das fraudes na Secretaria da Educação.

osul

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