Policiais e agentes penitenciários como alvo, mortes cruéis em tom de execução, tiros contra o local de trabalho do governador do Estado, bases policiais atacadas, incêndio contra viaturas e carros em prédios públicos e particulares. Após três anos, uma nova onda de atentados apavora Santa Catarina. Desta vez, considerada ainda mais violenta por mirar e tirar a vida dos próprios servidores em meio à provável ação criminosa de duas facções.
O agravante do cenário até a noite de sexta-feira era a tímida resposta do poder público, que garante trabalhar em sigilo e dar resposta à altura no devido tempo. A Secretaria de Segurança Pública (SSP) optou mais uma vez em se manifestar somente por nota e o secretário César Grubba recusou pedidos de entrevista. Com isso, ficaram abertos questionamentos sobre a motivação dos ataques, piorando a sensação de insegurança nas ruas em um ano de aumento da criminalidade com a escalada das mortes violentas.
Por enquanto, nenhum plano de ação foi anunciado, com exceção da Polícia Militar, que informou ter intensificado as operações de barreiras em cidades pontuais como Florianópolis, Camboriú e Joinville, cidades em que PMs foram mortos. Desde o dia 11 de agosto, quatro servidores foram assassinados, sendo três policiais e um agente penitenciário.
Na noite de sexta-feira, a Polícia Civil também emitiu nota sobre os ataques. O comunicado, assinado pelo delegado geral da Polícia Civil, Artur Nitz, diz que a "a instituição está intensificando seus trabalhos nas 459 unidades espalhadas por SC". Além disso, reforça que a polícia possui investigações em andamento.
Apenas entre as noites de quinta e sexta-feira, foram pelo menos 16 ataques em 10 cidades de Norte a Sul. Em Palhoça, um sargento da PM escapou de tiros disparados por homens em uma motocicleta. Em Criciúma, a casa de um policial teria sido alvo de disparos e um princípio de incêndio acabou controlado pelos vizinhos. Em outra grave investida, bandidos dispararam 10 vezes contra a guarita do Centro Administrativo, na SC-401, onde trabalha o governador Raimundo Colombo. Na noite de sexta, um ônibus foi queimado em Itajaí. Um grupo encapuzado entrou no veículo de estudantes da Univali e mandou o grupo deixar o veículo.
Ações de duas facções desafiam autoridades
Fontes experientes do setor policial e prisional ouvidas pela reportagem apontam que estão em andamento nas últimas semanas atentados criminosos a mando de lideranças da facção nascida nos presídios catarinenses no começo dos anos 2000. O bando protagoniza desde 2012 ondas de violência no Estado e seus principais chefes estão em presídios federais.
As fontes levam em conta áudios e mensagens interceptadas de detentos abrigados na Penitenciária de São Pedro de Alcântara, na Grande Florianópolis, o quartel-general da organização, e presídios de outras regiões. O material está nas mãos de setores de inteligência e da Divisão de Repressão ao Crime Organizado (Draco) da Diretoria Estadual de Investigações Criminais (Deic). As instituições são responsáveis por investigar a fundo os crimes, identificar os mandantes e pedir as prisões à Justiça.
Mas em meio à possível retomada de poder de fogo pela quadrilha catarinense, também há indícios de ataques comandados por uma facção de São Paulo. Há dois anos, os criminosos paulistas buscam ocupar espaço do tráfico de drogas deixado no vácuo a partir das desarticulações da organização de SC. Para conquistar territórios, travam confronto com em uma onda de assassinatos nas maiores cidades catarinenses.
As duas facções também têm células de dentro dos presídios, lugares considerados vulneráveis para a disseminação de informações criminosas por não disporem de bloqueadores de sinais de aparelhos celulares.
Nos bastidores, há hipóteses sobre as possíveis causas da violência. Entre as principais estão suposto abuso de agentes penitenciários no Presídio de Blumenau, possíveis transferências internas de detentos que não foram confirmadas pelo sistema prisional, e a própria medição de força entre os dois bandos.
Falha na inteligência é questionada
A dimensão desta nova crise na segurança rendeu críticas de entidades policiais sobre possível falha nos setores de inteligência em propagar a gravidade dos ataques que poderiam acontecer contra a vida de policiais.
A divulgação maciça de pedidos de cuidados e alerta máximo aconteceu apenas na noite de quarta-feira, após a execução do policial militar Edson Abílio Alves. Houve neste dia, por exemplo, circular de recomendação aos gestores prisionais pela secretária da Justiça e Cidadania, Ada De Luca, mas a primeira morte de agente penitenciário aconteceu bem antes, em 18 de agosto.
Na pronta resposta, policiais apontam dificuldades em aparelhamento e condições financeiras. A prova disso, afirma a Associação Nacional dos Praças (Anaspra), é que nos últimos dias os helicópteros da Polícia Militar estão baixados sem poder decolar por falta de recursos e impasses no seguro. As aeronaves são tidas como cruciais em momentos de atentados, pois auxiliam em rápidas perseguições e ainda inibem ações criminosas com o poderia de força do Estado.
A última onda grande de atentados em Santa Catarina aconteceu em outubro de 2014, quando o Estado solicitou apoio da Força Nacional de Segurança e transferiu 20 líderes do crime organizado para presídios federais de outras regiões do país.
Fonte: Diário Catarinense/wh3
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