Ações violentas como roubo a agências bancárias têm se tornado frequentes em pequenas cidades de Santa Catarina. As ocorrências em locais considerados tranquilos e com pouco policiamento deram aos moradores a sensação de insegurança, um medo constante de que os crimes voltem a ocorrer, como mostrou o Jornal do Almoço.
“Eu não durmo mais. Qualquer barulhinho, qualquer carro que passe, a gente já acorda com medo”, disse a secretária Aline de Oliveira.
Impressão de guerra
No fim de abril, os moradores de Fraiburgo, no Oeste catarinense acordaram com a impressão de estarem em meio a uma guerra.
“Ele avisou a população... Se aparecer na janela, vai morrer. A gente ficou no meio do tiroteio, não tinha o que ser feito”, contou o empresário Adelino Dias.
Uma quadrilha fortemente armada, com explosivos, invadiu a cidade e assaltou dois bancos ao mesmo tempo. Para os vizinhos, o barulho foi tão forte que tiveram a impressão de que os criminosos estavam dentro de casa.
“Oh, a bomba vai explodir, se prepare”, disse uma moradora em vídeo divulgado pela RBS TV.
“Vai ter mais um...”, disse outro morador antes do som de uma explosão ainda mais forte. A situação durou ao menos uma hora e meia.
“Não termina nunca. É uma eternidade. Quando você acha que tá acabando, eles explodem mais, eles gritam mais, eles atiram mais”, completou a secretária Aline de Oliveira.
Baixo policiamento
"Não é qualquer criminoso que faz, são altamente especializados e outra: migram de um estado para o outro. Como num jogo de gato e rato, os criminosos escolhem cidades com baixo índice de criminalidade, isso implica baixo efetivo policial também, para atuarem", disse o especialista em segurança Sandro Sell.
Em abril de 2015, em Timbó Grande, no Norte catarinense, depois de assaltar um banco, homens armados com fuzis obrigaram os funcionários de uma agência a acompanhar o bando na fuga. Os moradores gravaram a ação dos criminosos.
“Derrubam árvores pra acesso a rodovias, jogam pregos, chamados miguelitos, em algumas rodovias também, pra furar o pneu. Não tem limite com a lei, então eles atuam de qualquer forma pra garantir que vão conseguir escapar de uma ação desse tipo", comentou o tenente Marcos Castro, comandante da Polícia Militar de Fraiburgo.
Prisões
Em Balneário Piçarras, no Litoral Norte, no ano passado, a ação foi semelhante. Depois do assalto, criminosos colocaram algumas pessoas na frente do banco para evitar o confronto com a polícia.
Neste caso, os reféns foram liberados antes da fuga. A polícia bloqueou a estrada e entrou em confronto com os criminosos. A quadrilha toda acabou presa.
Apesar de a Polícia prender, nem sempre os suspeitos ficam na cadeia. “Quando não há vítimas no local, não existe ninguém que foi rendido, como acontece geralmente durante a madrugada, se trata de uma ação de furto. Uma ação onde existe o arrombamento de uma agência bancária, com equipamentos, de uso de explosivo, que chega às vezes a inutilizar o prédio inteiro, recebe a mesma pena que um ladrão de galinha. Esta é uma situação que hoje tem dificultado o trabalho da segurança pública em coibir esse tipo de ação”, explicou o delegado Anselmo Cruz.
Responsabilidade pela segurança
Para o especialista em segurança Sandro Sell, a responsabilidade no combate a crimes deste tipo não é só do estado.
"Os bancos tem que ser os maiores interessados, até porque não é só o dinheiro que está em questão, é sobretudo a segurança, não só dos seus clientes, como também dos habitantes de uma cidade pacífica. Os bancos tem que assumir também uma politica de segurança mais consistente, só o estado não vai dar conta", falou.
Enquanto isso, os moradores sofrem as consequências. No caso de Fraiburgo, os bancos ainda não voltaram a funcionar, alguns serviços bancários estão sendo prestados por casas lotéricas.
“Fraiburgo sempre foi uma cidade pacata, em que todo mundo se conhece. Agora, o medo persiste. A gente tem medo que eles voltem”, disse Aline Oliveira.
Contraponto
Por nota, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) informou à RBS TV que em 2016 registrou uma queda de 23% no número de explosões de caixas eletrônicos, se comparado a 2015.
A entidade afirmou ainda que nos últimos 10 anos os bancos brasileiros triplicaram o investimento em segurança. Para a Febraban, é preciso combater as causas desses crimes, impedindo que os criminosos tenham acesso a explosivos desarticulando as quadrilhas através de ações de inteligência.
Fonte: G1/wh3
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