quarta-feira, 19 de julho de 2017

A crise brasileira no contexto da nova guerra-fria


O problema fundamental da crise brasileira não está 
na corrupção que é endêmica e tolerada pelas instâncias
oficiais, porque dela se beneficiavam. Se fossem resgatados
 os milhões e milhões de reais que anualmente os grandes
 bancos e as empresas deixam de recolher ao INSS, tornaria 
 supérflua uma reforma da Previdência.
O problema não é Lula nem Dilma e muito menos Temer. 
 O centro da questão é a disputa no quadro da nova 
guerra-fria entre USA e China: quem vai controlar a 
sétima economia mundial e como alinhá-la à lógica do
 Império norte-americano, impedindo a  penetração da
 China nos nossos países, especialmente no Brasil pois
 ela precisa manter seu crescimento com recursos que  nós possuímos.
Esta estratégia começou a ser implementada com a 
Lava-Jato e seu juiz Sérgio Moro e a antourage de promotores, 
vários preparados nos USA. Proseguiu com o impeachment
 da presidenta Dilma via parlamento, incorporou, setores do 
ministério público, da polícia federal, parte do STF e dos
 partidos conservadores, claramente neoliberais e ligados ao mercado.
Todas estas instâncias servem de forças auxiliares ao
 projeto maior do Império. Com uma vantagem: esse
 submetimento vem ao encontro dos propósitos dos
 herdeiros da Casa Grande que jamais toleraram que 
alguém da senzala ou filho da pobreza, chegasse à
 Presidência e inaugurasse políticas sociais de inclusão 
das classes subalternas, capazes de por em xeque seus
 privilégios. Preferem estar seguros ao lado dos USA,
 como sócios menores, do que aceitar transformações
 no status quo favorável a eles.
Para os USA, o Brasil é um espaço no Atlântico Sul,
 a descoberto. Não pode contiuar, pois consoante 
 uma das ideias-força do Pentágono: o 
full spectrum dominance
(a dominação de todo espectro territorial), o Brasil
 deve estar sob  controle. Daí a presença da
 quarta frota próxima a nossas águas territoriais 
e do pré-sal. A visão imperial e belicista  se expressa
 pelas 800 bases militares pelo mundo afora também
 na América Latina.
A China, em contra-partida, segue outra estratégia.
 Escolheu o caminho econômico e não o belicista.
 Por aí pensa ter chances de triunfar.
 O grande projeto da Eurásia, “O caminho da Seda”
 que envolve 56 países com um orçamento de
 ajuda ao desenvolvimento de 26 trilhões de dólares,
 faz com que marque sua presença também no Brasil 
e na América Latina.  
Nesse jogo de titãs, a estratégia norte-americana conta no
 Brasil com fortes aliados: os que perpetraram o golpe
 parlamentar, jurídico e mediático contra Dilma. Estão
 impondo um neoliberalismo mais radical que nos países
 centrais. Ele implica liquidar politicamente com a 
liderança popular de Lula através dos vários processos
 movidos contra ele pelo juiz justiceiro Sergio Moro da Lava-Jato.
 Eles todos seguem o figurino imperial imposto. Por isso, 
Moro se viu obrigado a condenar Lula, mesmo sem base
 jurídica suficiente, como o tem revelado eminentes juristas,
 do quilate de Dalmo Dalari. de Fábio Konder Comparato
 e por outra via, o grande analista político Moniz Bandeira.
Em termos gerais, para os USA trata-se de impedir que
 governos progressistas cheguem ao poder com um
 projeto  de soberania e que e reforcem um novo sujeito
 politico, vindo debaixo, das periferias, com políticas
 anti-sistêmicas mas que implicam a inclusão de milhões 
na sociedade, antes comandada por elites retrógradas, 
excludentes e inimigas de qualquer avanço que venha
 a ameaçar seus privilégios. Precisamos ter clareza:
 partidos com projetos claramente neoliberais, que
 colocam todo valor no mercado e todos os vícios no 
Estado que deve ser diminuido, como tem mostrado
 com vigor Jessé Souza e que freiam até com violência
 a ascensão das classes subalternas, são representantes
 subalternos desta estratégia imperidal norte-americana e 
 contra a China, envolvendo o Brasil  nesta trama, que
 para nós, no fundo, é anti-povo e anti-nacional.
Às nossas oligarquias não interessa um projeto de nação
 soberana com um governo que com políticas sociais 
 diminua a nefasta desigualdade social (injustiça social)
 e que aproveite nossas virtualidades seja da riqueza
 ecológica, da criatividade do povo e da posição
 estratégica geopoliticamente. Basta-lhes ser aliados 
agregados do Império norte-americano com o
 suporte europeu, pois assim veem garantidos
 seus privilégios e salvaguardada a natureza
 de sua acumulação absurdamente concentradora e
 anti-social. Daí que reeleger Lula seria a maior desgraça
 para o projeto imperial e aos aligopólios nacionais internacionalizados.
Essa é a real luta que se trava por debaixo das lutas
 politico-partidárias, do combate à corrupção e à
 punição de corruptos e corruptore. Esta é importante 
mas não acaba em si mesma. Não podemos ser ingênuos.
 Importa ter claro que ela se ordena ao alimenhamento ao
 Império norte-americano de costas  ao povo, negando-lhe 
o direito de construir o seu próprio caminho e de, com outros, 
dar uma feição menos malvada à planetização, impondo
 limites ao Grande Capital em escala mundial.

cartamaior

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