Mais de 40% dos recursos de emendas parlamentares a deputados federais e senadores catarinenses em 2017 vieram apenas em junho, mês que teve recorde de liberações do governo federal também a nível nacional. De janeiro a maio, foram pagos aos representantes do Estado R$ 34 milhões de emendas e restos a pagar de emendas de anos anteriores. Só no mês passado, foram R$ 23 milhões, totalizando R$ 57 milhões no semestre.
A liberação de alto valores por emendas, historicamente usada como moeda de troca entre Planalto e base aliada no Congresso, coincide com o período mais delicado da presidência de Michel Temer (PMDB). Nas últimas semanas o peemedebista viu a delação da JBS envolvê-lo diretamente na Operação Lava-Jato e agravar a crise política que se arrasta há meses e atinge ministros e assessores muito próximos a ele.
O líder do ranking catarinense é o deputado Jorginho Mello (PR), com R$ 4 milhões em junho e R$ 6,3 milhões ao longo do ano. No total de 2017, são 25 parlamentares ou ex-parlamentares que receberam verbas — nove do PMDB, quatro do PSDB, três do PP, três do PT, dois do PSD, dois do PSB, três do PT, um do PPS e um do PR. Os "ex" entram na lista porque as liberações incluem restos a pagar de anos e mandatos anteriores. Assim, até uma emenda do ex-senador Luiz Henrique da Silveira (PMDB), morto em 2015, foi beneficiada só agora.
Jorginho garante que a situação não envolveu nenhuma moeda de troca, como voto favorável a Temer em uma eventual votação na Câmara sobre o processo envolvendo o peemedebista. Para ele, trata-se apenas do bom uso da cota que cada parlamentar tem direito e da cobrança pela agilidade nas respostas aos pedidos.
— Cada deputado tem R$ 16 milhões e não tenho nada diferente disso. Algumas emendas são liberadas, outras demoram mais, é aquela novela. Até não fiz essa conta, mas estou toda semana cobrando, pessoal do meu gabinete fica em cima dos ministérios pra ver o que tá faltando — destaca o deputado.
O catarinense também diz que até ouviu boatos de que o Planalto liberaria mais emendas em busca de salvar o pescoço do presidente no Congresso, mas garante que, com ele, não ocorreu nenhuma tentativa de negociação.
— Ninguém falou comigo disso. O diabo sabe pra quem aparece. Pra mim ninguém se atravessa com conversa desse tipo, porque já me conhecem um pouquinho. Minhas emendas são as que tenho direito e são compromissos com prefeitos, a gente ajuda porque é prerrogativa do mandato — declara.
Recorde também no país
No país, o total de R$ 989 milhões nos cinco primeiros meses do ano saltou para R$ 1,5 bilhão somando os dados de junho. Quem lidera no ano é o senador José Serra (PSDB-SP), com R$ 9,6 milhões, seguido pela também senadora Marta Suplicy (PMDB-SP), com R$ 9,4 milhões. Dos 10 que mais tiveram liberação de recursos por emenda, quatro são do PSDB, três do PMDB, dois do PRB e um do PSD.
Os números são obtidos pelo Siga Brasil, sistema de informações sobre orçamento público federal disponibilizado pelo Senado.
Denúncia avança no Congresso
No Congresso, a denúncia contra Temer teve recomendação pela continuidade por parte do relator do processo na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados, Sergio Zveiter (PMDB-RJ). A apreciação do relatório na CCJ é o primeiro passo antes da votação em plenário que pode culminar no afastamento de Temer do Planalto — e na qual são necessários pelo menos 172 votos para que a acusação não chegue ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Em entrevistas à imprensa nacional, o líder do governo no Congresso, deputado André Moura (PSC-SE) negou que as emendas tenham relação com troca de votos para barrar a denúncia contra Temer. liberação das emendas tenha como objetivo ajudar Temer a derrubar a denúncia.
— Se toda vez que o governo liberar as emendas impositivas, se entender que é um jogo de ação política, então nós não vamos mais poder liberar nada — declarou.
Fonte: Diário Catarinense/wh3
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