segunda-feira, 24 de julho de 2017

Mulher ao volante, sim!


“Sempre tem algum passageiro que aparece com um comentário ‘mas é mulher’. Eu levo na brincadeira, dou risada e mostro que mulher também sabe dirigir e cuidar muito bem dos passageiros”, Arlise Wagner
A escolha da profissão motorista no começo não era exatamente esta. Arlise Wagner, 32 anos de Tunápolis é formada em Jornalismo pela Unoesc/2010, no mesmo ano em que alterou sua carteira de habilitação para categoria D, exigida para dirigir veículos para transporte de passageiros, foi o primeiro grande passo para as estradas e uma luta contra o preconceito. Arlise alterou a categoria da habilitação na época, pois ela e seu marido Danilo já tinham uma empresa de transporte de passageiros. “Quis mesmo alterar para viajar algumas vezes. Meu marido foi contra, não queria que eu gastasse esse dinheiro na alteração da carteira de habilitação, dizia que seria um dinheiro jogado fora e eu nunca iria usar mesmo. Mas, quando eu tenho algo na mente ninguém tira”, revela. 
Já na primeira semana com a habilitação renovada levou uma turma de acadêmicos de Tunápolis a Itapiranga. “Eram meus cobaias, eles não sabiam”, se diverte. Depois, Arlise começou a viajar com seu marido, mas nem sempre conseguia já que ainda atuava como jornalista. “Só ia junto, para aprender os caminhos, a estrada e, como dirigir melhor. Após um ano, meu marido começou a me dar o volante na estrada, durante as viagens. Eu dirigia por algumas horas e, depois eles seguia novamente”, conta.
Mas foi mesmo após uns dois anos da alteração da habilitação que Arlise fez a minha primeira viagem, sozinha. Destino? Florianópolis com onze passageiros abordo na van. “Nunca havia entrado lá. Nem sabia como chegar, mas fui. Claro que sofri preconceito dos homens naquela viagem, mas, nada que umas lições não ajudaram”, reconhece. E depois disso, as viagens só aumentaram. E em 2015, a empresa já com 13 anos, começou a crescer, as solicitações de viagens começaram a aumentar e ela precisou tomar uma decisão, deixar do jornalismo optar por cuidar empresa e da direção.
“Eu sei que há dois anos foi uma das decisões mais difíceis de tomar, de largar a profissão que eu amava, na qual havia me formado, mas, hoje, posso dizer que sou feliz, amo o que eu faço. Todas as semanas conheço pessoas diferentes, amizades novas são construídas e, todas às vezes, conheço lugares diferentes. Atender os meus passageiros então, bom, eles sabem, atendo eles da melhor forma possível e, sempre busco manter um sorriso no rosto, porque adoro o que eu faço”, menciona. Arlise então passou a dirigir van e microônibus, administrar a empresa, além de dirigir, ainda cuida do marketing e ainda dá aquele toque feminino na limpeza dos ônibus.
Preconceito 
Hoje Arlise sabe que conquistou seu espaço ao volante e afirma que tem muito orgulho disso. Também reconhece que são as mulheres que trabalham com transporte de passageiros, principalmente em viagens longas. “Preconceito? Ah e como sofri. Principalmente no inicio, sabe aquelas piadinhas, vindas principalmente dos homens, ‘acho que precisamos fazer seguro de vida’, ou, ‘i, mulher no volante’, ou então muitos relutavam em entrar na van, olhavam se realmente meu marido não estava me acompanhando na viagem. Mas, por incrível que pareça, também enfrentei preconceito de mulheres. Sempre tinha passageiro desconfiado. Mas, como não tinha outro motorista, a maneira era embarcar na van e viajar. Após alguns quilômetros, eles concordavam e comentavam que se sentiam seguros comigo e eu me sentia bem com isso”, detalha.
Apesar dos episódios de preconceito que enfrentou Arlise diz que atualmente mudou, até porque toda região que atende já a conhece e a vê dirigindo. Mas, ainda assim, ouve algumas piadinhas que ela com bom humor contorna e mostra na prática que mulher sim também sabe dirigir. “Sempre tem algum passageiro que aparece com um comentário “mas é mulher”. “Eu levo na brincadeira, dou risada e mostro que mulher também sabe dirigir e cuidar muito bem dos passageiros”, declara.
Dificuldades da estrada 
Além da saudade de casa, dos cachorros de estimação que sempre a esperam ansiosos, Arlise diz que não tem fim de semana nem feriado. E perde muitos aniversários da família por estar a trabalho, mas reconhece que é apaixonada pela profissão. Por outro lado, relata que uma das batalhas diárias de quem está na estrada é a imprudência e as péssimas condições das rodovias. “Você pode cuidar o máximo, dirigir bem, mas, podemos dizer que nossas entradas são uma guerra hoje, todos aceleram cada vez mais, cometem ultrapassagens perigosas. E, em segundo lugar, nossas belas estradas cheias de buracos, rodovias abandonadas, mal sinalizadas”, afirma. 

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